terça-feira, 30 de outubro de 2007

!!!!!!!!!!!!!!


Ao assistir o show da Bjork no TIM Festival, fiquei com a sensação de que o ser humano pode não “ser ridículo e limitado” como dizia Raul Seixas...
Bjork é uma espécie em extinção, um Hermeto Pascoal islandês. Seu show atinge sonoramente e visualmente de maneira inexplicável. Dá a sensação de não haver fronteiras entre o pop, o rock, a musica tradicionalista e o que mais houver. Sua musica é um exercício harmônico e impreciso de vozes e instrumentos. Bjork experimenta tudo. Mistura musica eletrônica com instrumentos de sopro. Percussão com um coral de vozes.
Falta a Bjork incorporar experiências olfativas ao seu show, porque visualmente ela atinge de maneira catártica o espectador, com imagens escandinavas, um vestido que remete a tribos africanas e músicos vestidos com roupas orientais, uma experiência interpretativa constante, mas não é só isso, a sensação bruta de algo compreensível, mas inexplicável. A sensação de não haver fronteiras musicais remete a ausência de fronteiras geográficas. Bjork cria uma metáfora de tudo ao mesmo tempo agora, e é belíssimo, impactante, e essencial, uma coreografia entre musica e imagem que deslumbra instiga por nos mostrar que algo pode ser diferente, é um show na essência do que representa a palavra.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007


[I]

[sórdidos diante da vastidão estreita

da penínsulado peloponeso;


seus olhos todos do mundo

voltaram-se, atônitos, uns para os outros]


marchavam hóplons, lanças e fortalezas;

teseu cansou e lamentou no canto,

no labirinto da sua beleza, o espanto

tamanha força de tal natureza;


o rei que havia se atirado ao mar

inebriado, defronte a morte

e outro que viu brotar em suas próprias mãos

a glória em puro-ouro da sorte;


“assistam todos a derrocada indelével

a quebra eterna dos seus paradigmas

e vejam como assim o faz a história

que sangra e jorra ao nascer dos dias”

[II]

Bastou ao tempo que corressem os anos

E os tantos outros que por ali passaram

O estandarte-águia dos reais romanos

Helenizaram, mundo-do-mediterrâneo;

À Hélade, longos os juramentos

Juraram aos deuses, a Jano, a Baco

Num latim só sem estranhamento

[Banharam suas ancas em vil conhecimento]
E quem balbuciava a língua do norte
O guerreiro escuro, a espada e o forte
Foi levar de novo à tal civilização
Uma nova era sob a escuridão.


[III]


(Trouxeram-me de volta

ao continente,


Arredios e inconstantes,

Navios)


As frotas domam o horizonte,

O além-mar da alma

e o insolúvel temor da vida;


E ver tamanha imensidão obscura,

e quando claro, um infinito azul profano;


As caravelas, naus, torpes galeras

enchem-se da fina melancolia,

dos seus inabaláveis homens de terra,

de mar,

de dor,

de tenra agonia;


Mas o que há de novo no mundo

além do Cabo-da-Boa-Esperança?

andar-se-ão os homens num sono profundo

ou numa tórrida e inconclusiva vingança?


E a morte certa peregrinação,

a vã ganância de quem vem do norte,

é certa, ingrata, preocupação

de viver bem ao bel prazer da sorte.



continua...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Cansei do que, mesmo?


Será que elas combinaram?




Cansei de ver a Daslu ser indiciada por sonegação fiscal e emissão de nota fria e não ter lugar para fazer compras
Cansei de ver a classe média pegando avião o que antes era privilégio só nosso
Cansei dos bingos fechados, e agora tenho que ir pra Punta del Este
Cansei de ficar fora do poder que antes era só nosso
Cansei da violencia e da miséria, resultado de 500 anos da nossa permanencia no poder
Cansei de ver traficante internacional fazendo plástica na minha clinica
Cansei do "caos aereo" e não cansei do massacre de Carajas, do buraco do metro e da chacina da candelaria
*
Eu cansei de vocês.Regina Duarte,a medrosa. Ana Maria Braga, a botocada. Hebe Camargo, fiel escudeira do integro Paulo Maluf. E de você Ivete, por que não aguento mais os closes nas suas coxas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

NWR


À frente de um supermercado de fachada, curto e barato, ficam os negros dáfrica.
Nigéria, creio eu.
E passam lá o dia inteiro, encontros, discussões acaloradas, celular, maconha. Encontram em plena avenida são joão o doce refúgio de quem se desencontrou no mundo para se achar de novo, cá no trópico tupiniquim. Imigraram.
São vorazes uns com os outros, falam alto em rodas tensas. Gesticulam. Grandes e elegantes.

Eis, portanto, bem ao lado desse supermercado, uma semiloja que fica entreaberta e saem e entram os homens de lá. “N.W.R.”, lê-se na portinhola.
Outro dia espiei um pouco, deixei o olhar penetrar aquele ambiente curioso, mesmo que durante os breves segundos que atravessava o limite daquele espaço pluralmente geográfico. Ia para casa, e impossível era não passar por lá. Vi que abusavam do joguinho, dos tacos e das bolas coloridas. Bebericavam sob a névoa incessante de cigarros e riam uns com os outros. Riam e quase dançavam. Quase alegres.

Lá fora, ainda a presença ostensiva dos homens fortes com seus braços cruzados e roupas recentes. Diamantes. Muambas. Cocaína. Dizem de tudo aqui no centrão. Ora que eles estão clandestinos e que prestam serviços para a “firma” paulistana do crime; outrora, que são trabalhadores como tantos outros peruanos, nordestinos, coreanos, japoneses e chineses. Correm atrás do tempo da metrópole do subdesenvolvimento global. Trocam apenas a miséria de continente.

E os grupos que por lá se formam vão se espalhando pela longa avenida, histórica passagem de São Paulo. Hoje já posso contar mais três pontos que identifico como zonas autônomas de imigrantes africanos: o bar da praça Júlio de Mesquita, a bocada escura que é o boteco deles no início da General Osório e no coração da cracolândia, os edifícios antigos e sujos que se amontoam de gentes e gambiarras elétricas.

Disputam essa porção do bairro com os chineses, recentes também. Bem perto do “N.W.R.”, havia o “Jing You”, uma espécie de espelunca repleta de cerveja barata e mercadorias contrabandeadas. Era um supermercado-feira-açougue com baixa reputação higiênica, guardado por gatos que habitavam o setor de bolachas e guloseimas, o meu preferido. Um dia esperei a fila do caixa e me encontrei no meio de uma negociação repentina, de difícil entendimento, muito pouco provável para mim: a chinesa dona do local, que usava unhas vermelhas e cabelos iluminados, discutia ainda muito calma com um dos africanos de que vos falo. Ele balbuciava coisas enroladas e fortes. Ela apenas concluía, com cara de conclusão, “tlêis, tlêis, tlêis”. Fiz de conta que se entendiam. E se entenderam de fato. Pensei depois que ele podia estar ali em nome do movimento, cobrando ou pagando algo e que ela, toda chefona, dava os ombros para aquele tamanho de homem.

O “Jing You” hoje está com suas portas baixas, impedido por blocos de concreto e avisos da prefeitura. Política de imigração? Não, não. Assim como a cena indelével que vi ao voltar pra casa, como todos os dias: em frente ao “N.W.R.” os negros não faziam ponto, nem pregão. Não desfilavam celulares nem charutos ou bonés. Restavam apenas os braços e sutis fisionomias dos pretos enjaulados num furgão preto da Polícia Federal.
Deu até no jornal.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Le temp


Aceitou o convite e desposou a filha do imperador austríaco. Fez, contudo, uma suntuosa lambança, causando angústia entre os senhores ministros da defesa.

Gerou a polêmica ou o drama de ribalta ao pisar o sagrado solo das camélias apenas de franciscanas,

sandálias;

Os pés, tocando relesmente o chão

O olhar, impávido e altaneiro era como o de um timoneiro, confiante diante de tamanho mar revolto.


E volta agora,

colossal é o seu retorno,

mítico, muitos o dizem;


e entre comentários, maledicências escapulam das boquiabertas da plebe insensata. Os dentes, lábios e salivas aguçam-se com falas estridentes e comentários enfadonhos...


"- foi um mau presságio, virá a peste e o nosso fim!"

"- serão anos de mácula, plena agonia e dor!"


e diante das muralhas, do temor, da meia idade;

O senhor que então retorna traz pães para os meninos,

linho, seda e sutil prosperidade.


Há anos!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

A culpa é de quem?


O avião caiu. Mas a culpa é de quem? Até agora, segundo os peritos de ninguém. As informações da caixa preta, até momento não indicaram nenhum culpado. A falta do grooving, responsável pelo escoamento da água, não pode ser considerada a culpada do acidente. O reversor da turbina não funcionava, mas também não há nada que comprove que esse defeito causou a tragédia, como também nada indica que o piloto tenha falhado. No entanto, a grande mídia tupiniquim já escolheu o seu, o governo Lula, e o enfiam goela abaixo da sociedade civil. Noticias e mais noticiais ligando o governo federal ao acidente cansam a vista. Não há duvida da falta de investimento, nos aeroportos e no sistema de controle aéreo, desse governo como também dos outros. Também não há indicio que a crise aérea seja responsável pela queda do avião, pois como já foi dito não há culpado comprovado. Afinal vender que essa crise é culpa desse governo é a mesma coisa que aceitar que o mensalão era pratica de um só partido ou de uma só bancada, afinal até as esquinas de Brasília sabem da compra de votos da votação da reeleição de FHC. A sociedade aceitou e nos dois casos criou-se a verdade que ambos problemas são do governo de Lula.
Verdade eu acredito, é compreender que a mídia brasileira faz uma campanha contra o atual governo. Afinal durante toda nossa história tivemos como nossos representantes descendentes da fina linhagem branca, rica, judia e intelectual e nosso país distribuiu renda, tornou-se mais justo, democrático e com avanços na educação. Fina linhagem que é a dona dos principais meios de comunicação e que organiza essa campanha anti-lula.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Morreu ACM! Viva!


Hoje é um dia festa! Morreu uma das figuras mais perversas da política brasileira. Antonio Carlos Magalhães é para os baianos o que um dia representou para os paulistas o nefasto Paulo Maluf. Representante da alta oligarquia baiana, e do ficou conhecido como coronelismo, ACM utilizou-se de métodos corleonianos para fincar seu pé no território de influencia da política nacional. Cobra criada dos militares, teve no período da ditadura militar o espaço e o aval para comandar a Bahia. De lá seus tentáculos alcançaram cargos de Ministro e Senador. ACM representante daquilo que há de pior no Brasil, filho do autoritarismo, era conhecido por métodos cruéis contra seus adversários, rendendo-lhe o apelido de Toninho Malvadeza. Infelizmente ACM produziu diversos afilhados na politica baiana e nacional, todos adeptos de seu estilo truculento e autoritario. Que tenham o mesmo fim! ACM morreu! Viva a Liberdade!!!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

O triste fim de um desconhecido - contado por ele mesmo


(I)

[Imagino as tantas vezes
que lhe fui o confidente;
Penso nos sorrisos,
nos olhares vacilantes.
À meia distância fui sempre
o eu-mesmo de agora]


O jogo visceral da verdade
fez-me homem, portanto.

Por ora, resta-me insurgir contra esse mal
e contar-lhes parte dessa estória;

Sou o mísero profeta do meu próprio fim
Encarcerado, rogo-me para que eu mesmo
goste um pouco mais de mim.

(II)

E fui dar-me com os vadios do Baixo Glicério;
Andei às avessas com o dia,
Amei profundamente os sabores da noite.

Das olheiras conquistadas,
o motivo do meu apelido;

Famigerado infante soturno,
que -sorrateiro- caminha parabolizante
entre bares e mundrungos vociferantes.
Inda hei de meter-me num mal intermitente;
Sei disso muito antes que me alerte toda essa gente.

(III)

E a causa do meu infortúnio
eu alego:
foi um amor-perdido que me deixou demasiadamente cego;

Aos entes, queridos, escreví uma carta de despedida.
Aos lobos da noite, que brindam a minha partida,
dou-lhes o vinho e a cachaça;
façamos do amor o torpor
e do fumo a fumaça.

(IV)

Viagem insólita essa que lhes narro.
Passei por espelhos, chagas, choros, cigarro.
E entre as suntuosas avenidas,
entretantas lágrimas escondidas,
não encontrei nem um banco frio para me deitar;

as praças e as próprias guias ou calçadas
estiveram-me fugidias, todas impossibilitadas.

Fui negado não apenas pelos olhos vis da sociedade;
Fui negado ainda por crianças, árvores e pelo esgoto da cidade.

(V)

Mas o que é o fracasso
para quem tão cedo fenece?

De que lhe vale uma vida
se tampouco a merece?

Sei por essas andanças
que há tristeza de sobra neste mundo;
E que no fundo é uma semente ingrata

que brota, velada,
que cresce, veloz,
e que repentinamente


mata.


segunda-feira, 2 de julho de 2007

A escolha sempre a ser feita


Ou renunciar toltalmente a vida! - gritou derepente com furor -, aceitar docilmente o destino como ele é, de uma vez por todas, e sufocar tudo em mim, abrindo mão de qualquer direito de agir, viver e amar.(Dostoievski, Crime e Castigo). A pergunta a ser feita por nós mesmos no final é sempre essa, pode ser Raskolnikov, Renton, João, Maria....

terça-feira, 19 de junho de 2007

O imortal


Nos loucos sonhos que tive,

Corria no meio do nada,

A longa escada eu subia

Caía no chão;


E mal levantava me erguiam,

À noite,

Adiante

A emboscada,

As balas cobriam de vidros

o chão;


O meu é fogo inimigo

É fé, é dor, é abrigo

O exato momento da vida

É a morte em vão;


Voava o mais alto rasante,

Rasgava por entre as paredes,

Sentia na pele um medo

No coração...

quinta-feira, 31 de maio de 2007



Morreu ontem o cidadão do samba paulista.


As mãos, grossas, eram a marca da sua vida.

O Camisa Verde e Branco, a sua escola, preferida.


Conhecí-o nos batuques da Santa Cecília, altivo malandro da praça, batuta de primeira. Era o verdadeiro patriarca daquela história,e de muitas outras.





Na Barra Funda, Hélio Bagunça fez a sua história. Ganhou respeito e admiração entre os sambistas antigos e desde então tornou-se conhecido como o Tio preferido dos ritmistas, canários e versadores. Fundou cordões pelo centro, firmou as rodas do bairro, ajudou o nascimento e o crescimento de muitas agremiações, como o próprio Camisa e a recém Tom Maior.


Tio Hélio gostava de uma prosa acompanhada de um tanto de vinho. Ficava leve, contava tudo. Uns copinhos a mais e nêgo velho já se propunha à cadência divina dos passos soltos do seu samba. No seu último carnaval, viu de perto a sua escola ganhar o acesso e deixar de lado uma crise que havia se instaurado na Barra Funda há certo tempo. Enquanto bebericávamos uma cachaça, escondidos do pessoal da harmonia, ele maldizia a sua velhice, como quem despertara para a vida a poucos sambas do fim.





Sorridente e forte.


Incólume e sagaz.


Tio Hélio Bagunça, esteja em paz...

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O PSDB e a Educação


No Estado de São Paulo o PSDB teve 12 anos de administração e terá 16 se o Governador José Serra cumprir o seu mandato. Durante 12 anos o PSDB também teve maioria absoluta na Assembléia Legislativa, ou seja, autonomia total da maquina estatal.
Todos os 621 colégios sob controle do Estado de São Paulo tiveram notas inferiores a 50 de uma escala de 0 a 100. A média geral das escolas estaduais da cidade foi de 38,42 (contra 52,81 de média das escolas particulares).Um total de 500 municípios do Estado de São Paulo dos 525 que oferecem ensino fundamental na rede estadual de 5ª a 8ª séries no Estado de São Paulo têm nota abaixo de 5, com média 4,5, pelos dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Segundo dados da própria Secretaria da Educação do Estado de São Paulo a repetência no fim do Ensino Médio em 1998 era de 3,6% e em 2006 a reprovação é de 17,8%.
Após 11 anos de administração do PSBD, fica clara a má qualidade dos alunos da Escola Publica Estadual. Portanto concluímos que os tucanos são um desastre na educação, certo?
O governador Serra mostrou que não basta ter índices medíocres e adolescentes saindo da escola como analfabetos funcionais, temos que piorar o ensino Superior!
No dia em que assumiu o Governo do Estado, Serra, baixou o decreto que tira a autonomia das Universidades Estaduais dando inicio a uma crise dentro da Universidade de São Paulo, com a invasão da reitoria por parte dos estudantes e funcionários, e greve em algumas Faculdades da Universidade. Para atingir o objetivo, construído por seus antecessores Covas e Alckmin, de arrasar o sistema educacional, no auge da crise, Serra, na calada da noite decreta o fim da divulgação de repasses ou bloqueios de verba as Universidades Estaduais, o que quer dizer que Serra, pode bloquear as verbas das Universidades sem a necessidade de publicação no Diário Oficial. Afinal o que quer o Governador?
Acredito que o recorde negativo nos índices educacionais e uma centralização de poder em suas mãos dando aos moradores do Estado o caráter de fantoches, o que os estudantes da USP se negam e se mostram como o grupo de resistência a um governo centralizador.Ah, mas se o Mário Covas tivesse vivo tudo seria diferente! Seria, com certeza, quem lembra da greve de 2000 sabe disso!

domingo, 20 de maio de 2007

Bento XVI, Chávez e o discurso histórico


Soberano e medieval, Bento XVI incorporou o peso milenar da antiga Igreja Católica ao celebrar a missa do dia das mães no Brasil e deixar escapar, em seu penitente discurso, as frases que suavizaram a participação da fé cristã no processo de colonização dos territórios americanos, no século XVI. Num eufemismo unilateral, o ex-cardeal pareceu não perceber que a história "oficial" dos países latinos, em que os personagens foram pintados, esculpidos e cantados como heróis da resistência e da liberdade, já foi superada por uma memória um pouco mais crítica e racional desse processo que dissecou o continente.

Por isso as reclamações de Chávez por um pedido de perdão do papa não foram tão extraterrestres quanto tentou nos informar alguns noticiários. Mais que isso, o discurso do venezuelano apresentou informações essenciais que nos dão a pista para compreendermos melhor a confusão de tempos históricos que se apresentam nesse caso célebre de briga entre ameríndios e colonizadores e as características do atual ciclo do capitalismo global, informatizado e rápido; apesar de representar um outro acúmulo de informações históricas relevantes, como a tradição marxista latino-americana da década de 70, Hugo Chávez soube aproveitar a falha do bispo de Roma para introjetar no discurso do europeu que parte da superada e viciada "História oficial" latino-americana se revelou traiçoeira e falsa. Isso nem as elites anti-Chávez/ Fidel/Morales podem duvidar; o processo de aculturação e de imposição política e social da colonização espanhola e portuguesa nas Américas foi feito sob um olhar imponente e ativo da Igreja Católica.

E o papa, ao condenar o uso da camisinha, o casamento entre homossexuais e mais uma lista muito singular de questões-chave do mundo de hoje, sabe de maneira clara e precisa os limites do debate que se abre com uma visita desse porte ao continente que serviu de laboratório-ambulante para os loucos das cortes mil que nos desposaram há muito. O seu papel diante do papado que se apresenta forte mesmo no irromper do século XXI é, portanto, manter o mesmo discurso que os católicos da Idade Média, com seus index e dogmas apenas em uma atualização necessária.

É a renovação de um discurso tão pesado quanto o anel de ouro que Ratzinger carrega em sua mão direita ou tanto quanto a lama indelével que faz pesar os suntuosos trajes dos religiosos da Sé romana.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Oito de Novembro



O dia começou chuvoso. Oito de novembro. Os ventos frios vinham me aguçar o arrependimento de ter deixado a cama quente em que há pouco eu era feliz. Nada é tão repulsivo quanto deixar a cama quente para que ela se torne fria com o passar das horas. Levanto. Meu objetivo é chegar ao ponto de ônibus o mais rápido possível sem que ninguém me veja; fujo do vento como quem corre da morte e as outras pessoas eu não vejo. Sigo. Passos rápidos e arredios rumo ao fim do dia, que me espera bem lá de longe [quando aceitamos a empreitada de viver o dia, buscamos o fim dele e apenas nos distraímos com o que se tem pra fazer para se chegar ao fim mais rápido]. Vejo que a cidade continua insossa. Se chove, ela fica caótica. Se faz frio, ela é cálida. Se há o sol, há poluição. Pelo menos com esse frio ameniza-se o amargo da poluição no céu. O ar fica um pouco mais pesado, menos marrom... mais cinza. Creio que pelo caminho insólito, cheio de esgotos e ruas pavimentadas, novas praças bonitas com seus velhos moradores, contei uns quinze homens e mulheres sem vida. Eles parecem que enchem meus passos de descompassos. Essas sem-vidas eu vejo. Não paro porque sou uma máquina, também não tenho vida como eles: sou um tanto parecido com essas caras mal lavadas e inchadas de pouco bafo de vida. Sou diferente porque não paro, não escuto suas vozes torpes, enlouquecidas com esse esquecimento da vida. Talvez esses corpos não esperem pelo fim do dia. Talvez a espera deles é pela noite, e aí sim podem ser homens e mulheres com vida, menos cinzas. Conto mais vinte e três no ponto do ônibus. São vidas deturpadas, mal vestidas, descabeladas; assim como eu, olham pro fim da avenida esperando o itinerário certo do que é certo pro fim do dia. Amontoam-se nas portas dos coletivos achando que vão entrar todos ao mesmo tempo. Como se fossem corpos a se fundir em uma massa só, e depois virar pizza ou coxinha da esquina. Não ligam pro quão bizarra é a cena que vos narro. São tantos quanto eu. Se há a brecha, chego mais rápido e embarco para o dia antes que os outros. Parece uma corrida de asnos para ver quem chega mais rápido ao fim do dia. Paro. Deixo um pouco de lado essas tarefas pueris de pensar e agir. Volto-me um pouco. Um retorno sempre é vitorioso. Chegar à minha cama seria deitar-me nela inda quente. Os passos rumo à volta são sublimes; conto um depois do outro, piso forte, olhar altivo. Chego até a achar que posso rir, tamanha decisão feliz e impensada que acabei de tomar. Rio, então. Alto. Gargalho. Babo. O que vão pensar de mim? Encosto-me numa esquina porque forças já não tenho mais pra rir. Esse sentimento de verdade se apodera dos meus atos. São vorazes. Invadem minhálma, ocupam essa terra já desvalida. O tempo é passado. Passam por mim e se entreolham. Não paro de rir. Nem um pouco. Não me contento em rir mais e mais alto e forçar o mundo que passa a olhar pra mim, sujeito qualquer. Sei que adormeci. Minhas costas já estão raladas pelo duro e concreto que é o chão. Devo estar ali há uns trezentos minutos. Não rio mais. Não espero mais. Não levanto mais.


(uma ode aos que moram nas ruas)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Da Série Devaneios - Esse é o Brasil que eu quero !!!!




Andando pela Avenida Higienópolis ouço duas mulheres conversarem.
Não devem passar dos quarenta, estão esperando os filhos saírem do colégio. De terninho preto e bege claro, representam as mulheres modernas, que trabalham e cuidam dos filhos com ajuda do marido, é claro. Representam a elite paulistana, freqüentaram bons colégios os mais tradicionais, estudaram nas melhores universidades, seus empregos são excelentes, ganham muito bem, lêem Veja, Estadão e Folha. Vão ao shopping no fim de semana, suas contas de celular são astronômicas e malham na academia depois de pegarem seus filhos na escola. Papo vai papo vem. Conversam sobre novela, Big Brother e assuntos corriqueiros, quando a de terno bege claro cabelo curto, óculos de pouco grau encostada em seu Scénic cinza, pergunta:
- Você viu? Aprovaram a redução da maioridade penal. Agora aqueles vagabundos que mataram o menino no Rio vão pra cadeia!
A de terninho preto responde:
- Não vi não. Mas o que vai acontecer?
- Agora, qualquer bandido que matar, roubar e estuprar vai pra cadeia, não tem mais essa de FEBEM. Finalmente esses políticos fizeram alguma coisa pra acabar com a violência!!!!
Eu vendo tudo isso paro e penso. Lula continue com a sua estratégia. Valorize o real o máximo que você puder, e não faça nada pra acabar com a crise aérea, assim todas essas dondocas vão para Miami gastar seus dólares e não voltam nunca mais.

terça-feira, 24 de abril de 2007

re-lapso


A gente é tudo secundário

A gente é tudo

A gente é nada



A gente vota

A gente cheira

A gente reza



E há quem diga

Que o bom é ser gente

Ser grande

Ser imponente



Ser humano,

Desumano,

Que mata

Que mente e mata outra vez.



Um ímpeto,

Instinto

Inconsciente

De matar e morrer em nome

Da gente

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"Vagabundo! vagabundo!"


Eis que o Vagabundo da Silva, que esperava uma consulta no posto de saúde do seu bairro pra curar uma dor de dente, foi quase-morto pelo prefeito descabelado-careca, Gilberto nunKassab, após breve manifestação do primeiro contra o atendimento demorado no posto e contra a lei que sanciona a propaganda visual na cidade. Kaiser (o verdadeiro nome do cidadão) discutiu com o psicopata-pefelê e todos viram a cena medíocre do arrastão “indignado”na porta da instituição pública. Ao dar entrevista em prantos, o Kaiser de 40 anos parecia ter visto um fantasma, o E.T. de Varginhas ou um serial killer vestido de terno e cheirando alfazema; a investida do prefeito foi o célebre surto dos políticos descontrolados que habitam o inóspito ambiente social das ruas, do qual eles não fazem parte, definitivamente. Brilham pálidos na frente dos flashes e não sabem lidar com os reais desassossegos alheios dos quem vivem sem a ajuda necessária do Estado ou de seus representantes.
Diante de perguntas diferentes, fora do script, ficam suados e os olhos, esbugalhados, sinalizam que a explosão raivosa está por perto. Ataques desse quilate já aconteceram outras vezes na cena política da terra brasilis: o então governador Orestes Quércia ficou repetindo as palavras“idiota” e “mentiroso” para um jornalista que o sabatinava de maneira diferente durante o programa “Roda Viva” em mil novecentos e oitenta epoucos; Maluf e seus capangas atiraram garrafas dágua e pedaços de pau empartidários do PT durante uma carreata-comício quando este disputava com a Marta a prefeitura da cidade; e o caso mais célebre de todos, quando o “pai dos políticos”, Mário Covas resolveu destruir o acampamento dos professores,na praça da República, durante a greve de 2001 e levou pra casa algumas pedradas e laranjadas de presente.
É a terra do descontrole, fanfarrão! E quem toma porrada é o cidadão, esse famigerado sofredor das lendas urbanas! Muita saúva e pouca saúde, os malesdo Brasil são!