domingo, 20 de maio de 2007

Bento XVI, Chávez e o discurso histórico


Soberano e medieval, Bento XVI incorporou o peso milenar da antiga Igreja Católica ao celebrar a missa do dia das mães no Brasil e deixar escapar, em seu penitente discurso, as frases que suavizaram a participação da fé cristã no processo de colonização dos territórios americanos, no século XVI. Num eufemismo unilateral, o ex-cardeal pareceu não perceber que a história "oficial" dos países latinos, em que os personagens foram pintados, esculpidos e cantados como heróis da resistência e da liberdade, já foi superada por uma memória um pouco mais crítica e racional desse processo que dissecou o continente.

Por isso as reclamações de Chávez por um pedido de perdão do papa não foram tão extraterrestres quanto tentou nos informar alguns noticiários. Mais que isso, o discurso do venezuelano apresentou informações essenciais que nos dão a pista para compreendermos melhor a confusão de tempos históricos que se apresentam nesse caso célebre de briga entre ameríndios e colonizadores e as características do atual ciclo do capitalismo global, informatizado e rápido; apesar de representar um outro acúmulo de informações históricas relevantes, como a tradição marxista latino-americana da década de 70, Hugo Chávez soube aproveitar a falha do bispo de Roma para introjetar no discurso do europeu que parte da superada e viciada "História oficial" latino-americana se revelou traiçoeira e falsa. Isso nem as elites anti-Chávez/ Fidel/Morales podem duvidar; o processo de aculturação e de imposição política e social da colonização espanhola e portuguesa nas Américas foi feito sob um olhar imponente e ativo da Igreja Católica.

E o papa, ao condenar o uso da camisinha, o casamento entre homossexuais e mais uma lista muito singular de questões-chave do mundo de hoje, sabe de maneira clara e precisa os limites do debate que se abre com uma visita desse porte ao continente que serviu de laboratório-ambulante para os loucos das cortes mil que nos desposaram há muito. O seu papel diante do papado que se apresenta forte mesmo no irromper do século XXI é, portanto, manter o mesmo discurso que os católicos da Idade Média, com seus index e dogmas apenas em uma atualização necessária.

É a renovação de um discurso tão pesado quanto o anel de ouro que Ratzinger carrega em sua mão direita ou tanto quanto a lama indelével que faz pesar os suntuosos trajes dos religiosos da Sé romana.

Um comentário:

jubs disse...

"la culpa, la tiene el vaticano"
Dicho Popular