quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Cansei do que, mesmo?


Será que elas combinaram?




Cansei de ver a Daslu ser indiciada por sonegação fiscal e emissão de nota fria e não ter lugar para fazer compras
Cansei de ver a classe média pegando avião o que antes era privilégio só nosso
Cansei dos bingos fechados, e agora tenho que ir pra Punta del Este
Cansei de ficar fora do poder que antes era só nosso
Cansei da violencia e da miséria, resultado de 500 anos da nossa permanencia no poder
Cansei de ver traficante internacional fazendo plástica na minha clinica
Cansei do "caos aereo" e não cansei do massacre de Carajas, do buraco do metro e da chacina da candelaria
*
Eu cansei de vocês.Regina Duarte,a medrosa. Ana Maria Braga, a botocada. Hebe Camargo, fiel escudeira do integro Paulo Maluf. E de você Ivete, por que não aguento mais os closes nas suas coxas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

NWR


À frente de um supermercado de fachada, curto e barato, ficam os negros dáfrica.
Nigéria, creio eu.
E passam lá o dia inteiro, encontros, discussões acaloradas, celular, maconha. Encontram em plena avenida são joão o doce refúgio de quem se desencontrou no mundo para se achar de novo, cá no trópico tupiniquim. Imigraram.
São vorazes uns com os outros, falam alto em rodas tensas. Gesticulam. Grandes e elegantes.

Eis, portanto, bem ao lado desse supermercado, uma semiloja que fica entreaberta e saem e entram os homens de lá. “N.W.R.”, lê-se na portinhola.
Outro dia espiei um pouco, deixei o olhar penetrar aquele ambiente curioso, mesmo que durante os breves segundos que atravessava o limite daquele espaço pluralmente geográfico. Ia para casa, e impossível era não passar por lá. Vi que abusavam do joguinho, dos tacos e das bolas coloridas. Bebericavam sob a névoa incessante de cigarros e riam uns com os outros. Riam e quase dançavam. Quase alegres.

Lá fora, ainda a presença ostensiva dos homens fortes com seus braços cruzados e roupas recentes. Diamantes. Muambas. Cocaína. Dizem de tudo aqui no centrão. Ora que eles estão clandestinos e que prestam serviços para a “firma” paulistana do crime; outrora, que são trabalhadores como tantos outros peruanos, nordestinos, coreanos, japoneses e chineses. Correm atrás do tempo da metrópole do subdesenvolvimento global. Trocam apenas a miséria de continente.

E os grupos que por lá se formam vão se espalhando pela longa avenida, histórica passagem de São Paulo. Hoje já posso contar mais três pontos que identifico como zonas autônomas de imigrantes africanos: o bar da praça Júlio de Mesquita, a bocada escura que é o boteco deles no início da General Osório e no coração da cracolândia, os edifícios antigos e sujos que se amontoam de gentes e gambiarras elétricas.

Disputam essa porção do bairro com os chineses, recentes também. Bem perto do “N.W.R.”, havia o “Jing You”, uma espécie de espelunca repleta de cerveja barata e mercadorias contrabandeadas. Era um supermercado-feira-açougue com baixa reputação higiênica, guardado por gatos que habitavam o setor de bolachas e guloseimas, o meu preferido. Um dia esperei a fila do caixa e me encontrei no meio de uma negociação repentina, de difícil entendimento, muito pouco provável para mim: a chinesa dona do local, que usava unhas vermelhas e cabelos iluminados, discutia ainda muito calma com um dos africanos de que vos falo. Ele balbuciava coisas enroladas e fortes. Ela apenas concluía, com cara de conclusão, “tlêis, tlêis, tlêis”. Fiz de conta que se entendiam. E se entenderam de fato. Pensei depois que ele podia estar ali em nome do movimento, cobrando ou pagando algo e que ela, toda chefona, dava os ombros para aquele tamanho de homem.

O “Jing You” hoje está com suas portas baixas, impedido por blocos de concreto e avisos da prefeitura. Política de imigração? Não, não. Assim como a cena indelével que vi ao voltar pra casa, como todos os dias: em frente ao “N.W.R.” os negros não faziam ponto, nem pregão. Não desfilavam celulares nem charutos ou bonés. Restavam apenas os braços e sutis fisionomias dos pretos enjaulados num furgão preto da Polícia Federal.
Deu até no jornal.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Le temp


Aceitou o convite e desposou a filha do imperador austríaco. Fez, contudo, uma suntuosa lambança, causando angústia entre os senhores ministros da defesa.

Gerou a polêmica ou o drama de ribalta ao pisar o sagrado solo das camélias apenas de franciscanas,

sandálias;

Os pés, tocando relesmente o chão

O olhar, impávido e altaneiro era como o de um timoneiro, confiante diante de tamanho mar revolto.


E volta agora,

colossal é o seu retorno,

mítico, muitos o dizem;


e entre comentários, maledicências escapulam das boquiabertas da plebe insensata. Os dentes, lábios e salivas aguçam-se com falas estridentes e comentários enfadonhos...


"- foi um mau presságio, virá a peste e o nosso fim!"

"- serão anos de mácula, plena agonia e dor!"


e diante das muralhas, do temor, da meia idade;

O senhor que então retorna traz pães para os meninos,

linho, seda e sutil prosperidade.


Há anos!